domingo, janeiro 22, 2006

Equação para um presidente.

Como é que se escolhe um presidente da republica?

Esta pergunta, que todos os Portugueses em idade de votar devem neste momento estar a fazer (se não estão, deviam) não é nem pode ser fácil. Trata-se da primeira figura do estado por ordem hierárquica, o mais alto magistrado da nação e a representação por excelência, de Portugal no exterior, De entre todos os corpos eleitos do estado, é também aquele que menos controlos "externos" sobre o seu comportamento possui. Pede-se a ele que seja o supremo juiz cuja decisão sobre questões polémicas seja final e tal papel exige que a nenhuma outra instituição ele se subordine nas suas considerações normais. É este papel que constitui a fonte do seu grande poder e também aquele que torna crucial a boa escolha daquele ou daquela que o deve exercer: uma vez eleito, só a sua consciência o separa do caos e da desordem da desobediência civil.

Por todas estas razões, que não são muitas mas são importantes, uma boa escolha é importante. Como referi, a presidência da república é de todas as instituições eleitas, aquela que é mais independente e menos subordinada a qualquer outra, e consequentemente, aquela cuja conclusão de mandato é praticamente certo. Uma vez que o escolhamos, é uma escolha para cinco anos, não havendo espaço para arrependimentos. Em contraste, se nos arrependermos da escolha do partido em que votámos, podemos sempre convencer o presidente da república a dissolver a assembleia. Esta é a medida exacta da diferença de poderes de cada um. E porque esta é a escolha mais importante de todas, feita para que nos possamos sentir à vontade em tomar outras escolhas sem a ameaça de arrependimentos permanentes, escolheu-se para ela um método de eleição que não se aplica a mais nenhum outro corpo de estado: dentro do principio de que na maioria do povo, está a melhor razão, a presidência do estado é a único cargo público a ser eleito numa votação uninominal.

Mas como é que se escolhe um presidente da republica?

Escolhe-se. Não se pode deixar de escolher.

Não me quis alongar na resposta anterior, porque no fundo tudo se resume a isso: a importância da escolha não deve inibir ninguém de a exercer, porque paradoxalmente, mais importante que escolher bem, ainda é o próprio acto de escolher. Uma escolha implica preocupação de quem escolhe por quem escolhe, ela implica uma agenda pessoal do que se espera, conscientemente ou não, e contra a qual se mede os actos do eleito. E esta medição tem que ocorrer obrigatoriamente: se disse antes que só a consciência do eleito o separa do caos e da desobediência civil, é o potencial de existência destes últimos que obriga á existência de uma consciência do parte do primeiro. Esse é um dos pilares (não escritos) das democracias representativas: a autoridade atribuída a cada representante eleito é temporária e condicional, e se subvertida por alguém eleito, arrisca-se a ser retirada nas ruas. É a bomba atómica do povo, aquela que nunca deve ser usada mas existe. O primeiro passo para nunca ser usada é haver a consciência de que o pode ser. É obrigar o político a reconhecer que os seus eleitores se preocupam, e que nenhuma eleição é um cheque em branco contínuo. E o primeiro passo para isso é votarmos!!!

Votar.

Pode parecer estranho que se defenda que mesmo um mau voto é melhor que nenhum voto. No entanto, um voto errado só o é na medida em que em que vota enganado, e se sentindo enganado, não se reaja. É legítimo errarmos. Aliás, essa é a razão porque temos eleições de quatro anos: as situações mudam, e o que parece ser certo, deixa de o ser ou se revela errado. A ideia é aprendermos com os nossos erros e singrarmos melhor no futuro. E se for importante atribuir o voto à pessoa certa, considerem que erros sempre haverão, e se se erra em detrimento do nosso candidato correcto, também há quem erre a favor dele. E é matematicamente certo que uma taxa de erro não muito elevada só poderá quanto muito facilitar a existência de uma segunda volta, onde os erros poderão ser corrigidos e esclarecidos. Esta certeza (que poderei desenvolver noutra altura) só é desmentida se houver um enviezamento do voto por motivos "desonestos"... mas aqui entra-se no campo da nossa "bomba atómica".

terça-feira, janeiro 10, 2006

Escópios


Escópios... eis uma (não-)palavra interessante. Nascida do desespero de encontrar algo não usado com que me identificasse antes do fim do dia, a palavra evoca microscópios e telescópios, osciloscópios e outros cópios, complexos e sofisticados instrumentos de observação do nosso mundo, ciência pura. Eu posso viver com isso.

É uma palavra ainda mais interessante porque, não existe! É curioso que sendo o sufixo de tantos bons instrumentos, ela não designe uma categoria genérica dos mesmos, mas é verdade, procura-se no dicionário de língua Portuguesa (Porto Editora 5ªEd.) e ela não está lá. O melhor que se consegue é descobrir que o sufixo "escópio" deriva do grego "skopeîn", mas nem o significado deste consegui. Uma pesquisa na Net revela mais. Por exemplo, parece ser um termo a cair em desuso em instrumentação médica. Também encontrei referências ao mesmo em páginas espanholas. Foi um medo real: temia que pudesse vir a descobrir que a palavra era vulgar noutras línguas e que fosse reservada pelas minhas suspeitas sobre o BlogSpot. No fim, vim a descobrir o seu significado no sítio mais improvável, num documento sobre a mitologia dos Pokemons. Nem sequer foi no próprio documento (inalcançável), mas na cache html que o google mantinha sobre ele. Escópios significa "Visor".

Mas que apropriado.

Sai "Caminhadas", entram "visores" sobre o que penso e onde caminho. Tenho farol outra vez.

domingo, janeiro 08, 2006

Caminhadas

Todas as aventuras começam com um passo. As minhas começam sempre por uma palavra. Ela é o meu farol, a que define o que penso fazer e como fazer, o meu heterónimo do momento. Ao nomeá-la adquiro um pouco de poder sobre o meu destino, através do compromisso de aderência ao seu significado que daí advém.

No caso presente, a palavra é escópios.

Não era para sê-lo. Desde o momento em que algum tempo atrás quis substituir a palavra weblog por outra, que tenho pensado em muitas. A maior parte não deve ter sequer aflorado a superfície da minha consciência, outras, guardei-as por serem demasiado boas e ter medo que mas roubassem, as restantes eram simplesmente pretensiosas ou arriscadas demais, No fim decidi por um termo que fosse vulgar mas ao mesmo carregado de múltiplos significados. Pensei que tinha tido uma sorte louca quando pesquisei e não o encontrei a ser usado. O termo era "caminhadas". A ideia não era escrever sobre caminhadas, longe disso. Era antes sobre o que me acontece quando caminho. Na minha terra existe um parque bonito, muito simpático, onde costumo levar o meu cão, os meus sobrinhos ou correr. As oportunidades ou obrigações de o percorrer são numerosas, e daí que ele se tenha tornado o meu espaço de eleição para reflexões, Não poucas soluções e ideias nasceram lá, e se tiver que correr periodicamente mais de duas voltas em volta dele, porque não caminhar um tema também para o weblog?

E foi assim que nasceu o "Caminhadas", com direito a introdução e tudo. Quero fazê-lo bem "espontâneo" e interessante, portanto, toca de preparar textos para ele com um mês de antecedência sobre a prevista chegada da banda-larga a casa. Quero colocar algumas fotografias e desenhos, portanto, toca de prepará-los... ainda não tenho um scanner mas ao longo de uma ano acumulei um arquivo de 3 Gbytes de fotografias ao mesmo parque... mesmo a jeito. Um aspecto verdadeiramente importante é que ele deve permitir o uso de fórmulas, expressões matemáticas, até mesmo objecto mais esquisitos. A minha natureza impede-me de recusar uma resposta a qualquer um que me ponha uma pergunta, e fá-lo-ei na linguagem que pensar ser acessível ao meu arguente, mas nos temas que me disserem respeito, não quero ter restrições de qualquer espécie para abordá-los. E conto falar muito, "caminhar" muito. E no dia 1 de janeiro, dou o meu tiro de partida... e parto as pernas.

Tendo escolhido o BlogSpot para Blog Server, inicio o simples processo de registo em 3 passos... nada seria mais fácil. Adiro ao GMail para ter uma conta de correio na casa-mãe da BlogSpot não vá haver vantagens no processo, testo um nome de login que obviamente é recusado, testo outro, encontro finalmente um que não é usado, lanço o nome do blog que quero e...

Não percebo. Vou à caixa de hiperligações do browser e digito "http://Caminhadas.blogspot.com", nada, a mesma coisa que uns meses atrás. Mas o Blogspot recusa-se a deixar usar este nome, diz que já está ocupado. Ocorre-me várias ideias, várias razões, a mais cínica, a de que a BlogSpot reservaria as melhores palavras de antemão com vista à sua exploração comercial por quem desse mais. É uma tendência aberrante e preocupante que neste mundo estranho, até as palavras estão a saque, e qualquer dia não poderemos abrir a boca sem ter que pagar direitos de copyright. Mas não vou morder a mão dos que generosamente me oferecem uma oportunidade gratuita para usufruir deste tipo de serviço, e não me cabe a mim indignar-me se o modelo de negócio destes me atrapalhar, desde que a minha dignidade não seja atingida. Só que atrapalhado fiquei eu, a introdução para o caminhadas estava feita (à dois meses) e era boa, e só faltava 5 horas para o fim de um dia demasiado bom para se perder enquanto data de lançamento, o primeiro dia do ano.

Mais tarde apercebi-me que os nomes que o Blogger recusava era todos nomes que já constituíam partes de nomes de outros bloggers. "Caminhadas" existia como "Caminhadas do Vale", e outros recusados que me lembrei, eram igualmente nomes de pleno direito ou termos ligados por hífens em blogges de nomes compostos . É possível que seja um mecanismo de defesa contra o abuso de nomes respeitados e instalados, não sei. Mas um dia vou querer saber.

Quanto ao nome que escolhi finalmente, apareceu-me... numa caminhada no parque, nessa mesma noite. O desespero pode ser uma boa mãe, mas aquelas caminhadas são um pai melhor. E antes que chegasse a meia-noite, tinha o blogg lançado.

Falarei deste novo nome noutra altura. Por hoje limitar-me-ei a fazer uma pequenina alteração ao título escolhido e voltar a reincorporar nele o que pensei não poder meter nele: o nome "Caminhadas"...

domingo, janeiro 01, 2006

Introdução

Manda a (minha) tradição, que sempre que inicie um projecto de escrita, escreva uma introdução. É algo que tenho que fazer, como se fosse uma espécie de contrato com os tempos vindouros, um compromisso em continuar a escrever periodicamente e sobre certos assuntos, e daí que sinta a necessidade em os especificar. Quase sempre é um tarefa inglória. Vez e vez, a introdução é a maior peça escrita e a mais bem pensada, com o esforço perverso de ter exigido tanta energia que não sobra nenhuma para o que se quer realmente contar a seguir. Quando dou por mim, o projecto está abandonado. Por isso, tentarei ser breve desta vez.

Este weblog é um visor sobre as minha caminhadas, figurativa e literalmente. Nele mostrarei as minhas ideias e ocorrências, reverei “lugares” aonde já fui, verei outros, e partilharei os meus conhecimentos e especulações. É um registo que sinto uma necessidade intima de fazer, e é publico pela mesma razão. Todas as contribuições que me revelem outras visões válidas serão bem vindas.